O Trapo e o Farrapo...

 

Eram amigos, Trapo e Farrapo

Mas caíram num buraco

As brigas haviam começado

Farrapo foi acusado

Pelo ex-amigo Trapo

Você me pos nesse buraco!

Eu não! Foi você Trapo!

O pobre do buraco

De água encharcado

Pensou intrigado...

Briga deve ter acabado.

Mas não tinha terminado.

Mais experiente que Trapo

Farrapo, que com tudo havia lidado...

Diz para o revoltado

Você está todo molhado!

Sem se fazer de rogado

Vem a resposta de Trapo

E você está todo rasgado!

Chega um homem casado

A esposa ao seu lado

Com quem havia brigado

Primeiro Trapo foi tirado

Depois o ex-amigo Farrapo

Pra trás ficou o buraco

Olhou para a mulher Trapo

Ela também havia olhado

Trapo estava todo molhado

Do que viu ela havia gostado

Os dois se foram lado a lado

Ex-casado olhou para Farrapo

Vamos? Fiquei encalhado...

E o ex-amigo todo rasgado

Com olhar resignado...

O convite havia topado

Mas antes de ir com o casado

Deixou para todos um recado

Pobre a vida de um Farrapo!

 

Pedro Paulo


Os tomates podres...

O agricultor tinha uma vasta e fértil terra

Resolveu investir tudo em plantação de tomates

Brotava um tomate atrás do outro

Ele semeava o plantio com todo zelo

A plantação rendia frutos sadios e belos

Até que alguns tomates começaram a apodrecer

Mas estes também foram postos nas caixas

E junto com outros tomates perfeitos, suculentos...

Quanto mais caixas o agricultor enviava,

Mais tomates podres apareciam...

Eles iam infestando os bons com suas bactérias e pragas.

Costumamos dizer isso dos políticos

Quando surge um honesto é logo contagiado pelos corruptos,

Mas a realidade é que isso é em tudo.

O agricultor zelou pelos seus tomates?

Zelou sim, com toda certeza, mas...

A verdade é que de alguns podres...

Grande parte dos tomates apodreceu...

Eu, como um simples tomate,

Espero não estar entre os podres.

Deus, você como agricultor que foi e é,

Me responda, por favor...

Estou entre os podres???

Estou Deus???

Me ouça e me responda, por favor!

 

Pedro Paulo


Seja um idiota... 

A idiotice é vital para a felicidade.
Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre.
A vida já é um caos. Por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado?
Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota!
Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você.
Ignore o que o boçal do seu chefe disse.
Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele!
Milhares de casamentos acabaram não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice.
Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana?
Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?
É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar?
Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo.
Você quer? Espero que não!
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa.
Brincar é legal!
Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida e esse é o único "não" realmente aceitável.
Teste a teoria.
Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir...
Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?


Necessidades desnecessárias

 

A tecnologia tomou conta de nossas vidas.

Precisamos de um carro para ir de um lugar a outro?

Talvez não...

Como Dom Pedro chegou às margens do Ipiranga?

Precisamos de telefones para nos comunicar?

Acho que não...

Como fazíamos antes?

Tambores... fala... gestos...

Precisamos de computador para fazer amizades?

Também penso que não...

Fazíamos amizades em bares, em esquinas, em qualquer lugar.

O que acontece?

Todos se enraizaram pelo poder de tudo...

Poder de ter, consumir, poder pelo poder, enfim...

Acho mesmo é que o ser humano perdeu sua referência...

Perdeu sua natureza...

A referência de ser e compartilhar...

A natureza de simplesmente amar.

 

Pedro Paulo


Por que Deus permite... 

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade


Vida!!! 

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
Tentei substituir pessoas insubstituíveis
E esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
Já me decepcionei com pessoas
Que eu nunca pensei que iriam me decepcionar,
Mas também já decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
Já dei risada quando não podia,
Fiz amigos eternos,
E amigos que eu nunca mais vi.

Amei e fui amado,
Mas também já fui rejeitado,
Fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
Já vivi de amor e fiz juras eternas,
E quebrei a cara muitas vezes!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
Já liguei só para escutar uma voz,
Me apaixonei por um sorriso,
Já pensei que fosse morrer de tanta saudade
E tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida.
E você também não deveria passar!

Viva!!!


Tu és insignificante... 

Não! Não me digas isso!

Não se recolha à sua insignificância!

Ah... quer saber do que mais?

Você é insignificante sim, sabia?

Assim como é insignificante para mim o meu fígado, o meu baço, meu pâncreas...

Sim, você é insignificante!

Tão insignificante quanto meus pulmões, meus rins, meu coração...

Você sabia disso?

Sabia o quão insignificante você é para mim?

Pois é...

Você é a “coisa” mais insignificante do mundo para mim!

Mais insignificante até que o ar que respiro!

Sem você, nem ar tenho para respirar... o ar não existe mais para mim...

Queres saber do que mais?

Queres saber de quem falo?

Só digo uma coisa!

Ela sabe...

Sem ela não respiro...

Sem ela não existo...

Tu és tão insignificante para mim, que teu nome, para mim, é sinônimo de AMOR!

 

Autor: Pedro Paulo


Deixa o olhar do mundo

Deixa que o olhar do mundo enfim devasse
Teu grande amor que é teu maior segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes se mostrasse?

Basta de enganos! Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a face:
Quero que os homens todos, quando eu passe,
Invejosos, apontem-me com o dedo.

Olha: não posso mais! Ando tão cheio
Deste amor, que minhalma se consome
De te exaltar aos olhos do universo...

Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso. 
 

                  Olavo Bilac

 

Só observando... 

O pastor de uma igreja decidiu observar as pessoas que entravam para orar.

A porta se abriu e um homem de camisa esfarrapada adentrou pelo corredor central. O homem se ajoelhou, inclinou a cabeça, levantou-se e foi embora. Nos dias seguintes, sempre ao meio-dia, a mesma cena se repetia. Cada vez que se ajoelhava por alguns instantes, deixava de lado uma marmita. A curiosidade do pastor crescia e também o receio de que fosse um assaltante, então decidiu aproximar-se e perguntar o que fazia ali.
O velho homem disse que trabalhava numa fábrica, num outro bairro da cidade e que se chamava Jim. Disse que o almoço havia sido há meia hora atrás e que reservava o tempo restante para orar, que ficava apenas alguns momentos  porque a fábrica era longe dali.
E disse a oração que fazia:
'Vim aqui novamente, Senhor, só pra lhe dizer quão feliz eu tenho sido desde que nos tornamos amigos e que o Senhor me livrou dos meus pecados.. Não sei bem como devo orar, mas eu penso em você todos os dias.
Assim, Jesus, hoje estou aqui, só observando.'

O pastor, um tanto aturdido, disse que ele seria sempre bem-vindo e que viesse à igreja sempre que desejasse.
'É hora de ir' - disse Jim sorrindo.
Agradeceu e dirigiu-se apressadamente para a porta.
O pastor ajoelhou-se diante do altar, de um modo como nunca havia feito antes.  
Teve então, um lindo encontro com Jesus.
Enquanto lágrimas escorriam por seu rosto, ele repetiu a oração do velho homem...

'Vim aqui novamente, Senhor, só pra lhe dizer quão feliz eu tenho sido desde que nos tornamos amigos e que o Senhor me livrou dos meus pecados.. Não  sei bem como devo orar mas penso em você todos os dias..
Assim, Jesus, hoje estou aqui, só observando.'

Certo dia, o pastor notou que Jim não havia aparecido.
Percebendo que sua ausência se estendeu pelos dias seguintes, começou a ficar preocupado. Foi à fábrica perguntar por ele e descobriu que estava enfermo.
Durante a semana em que Jim esteve no hospital, a rotina da enfermaria mudou. Sua alegria era contagiante.

A chefe das enfermeiras, contudo, não pôde entender porque um homem tão simpático como Jim não recebia flores, telefonemas, cartões de amigos, parentes... Nada!

Ao encontrá-lo, o pastor colocou-se ao lado de sua cama. Foi quando Jim ouviu o comentário da enfermeira:
- Nenhum amigo veio pra mostrar que se importa com ele. Ele não deve ter ninguém com quem contar!!
Parecendo surpreso, o velho virou-se  
para o pastor e disse com um largo sorriso:
- A enfermeira está enganada, ela não sabe, mas desde que estou aqui, sempre ao meio-dia ELE VEM! Um querido amigo meu, que se senta bem junto a mim, Ele segura minha mão, inclina-se em minha direção e diz:

'Eu vim só pra lhe dizer quão feliz eu sou desde que nos tornamos amigos. Gosto de ouvir sua oração e penso em você todos os dias.
Agora sou eu quem o está observando... e cuidando!

  

Yeda

Quando Yeda morreu choravam tanto!

Chovia tanto nesta madrugada

Era o pranto dos seus, casado ao pranto

Da natureza, mãe desconsolada.

 

Quando Yeda morreu choravam tanto!

E ela partiu, sem vontade, enregelada

Num caixão de veludo ao Campo Santo

Entre beijos e lágrimas levada.

 

Ah! Não credes talvez porque não vistes

Mas, quando Yeda morreu chorava tudo

Até dois círios lânguidos e tristes.

 

Postos à sua cabeceira

Iam vertendo no seu pranto mudo

Dois rosários de lágrimas de cera.

          

Autor: Floriano de Avelar Werneck (Pai de Yeda)